A Aliança da Sociedade Civil contra a Usurpação da Terra em Moçambique (ASCUT) pretende recrutar um (1) Consultor – Estudo sobre Abordagens Inovativas de Funcionamento das Redes e OSC e Utilização de TICs nas actividades de Advocacia.
Nos últimos anos, as redes das organizações da sociedade civil tornaram-se actores chave para o processo de mudanças políticas e sociais. Em vários quadrantes do mundo, sobretudo em países com regimes democráticos, as redes foram emergindo na perspectiva de as organizações da sociedade civil tornarem-se mais fortes e actuarem de forma conjunta para a influência de políticas públicas.
Segundo alguns pesquisadores, existem alguns factores fundamentais para que as redes actuem em conformidade com os objectivos pelos quais foram criadas. Confiança mútua, partilha das mesmas normas, decisões tomadas de forma conjunta e equidade, constituem a equação preponderante para o pleno funcionamento de uma rede.
Entretanto, existem também desafios que podem comprometer o sucesso das redes. Dentre esses factores inclui-se a competição entre os membros das redes, a falta de confiança mútua, inadequada partilha e controlo de informações, para além da falta de equidade.
Em Moçambique, embora as organizações da sociedade civil tenham a sua génese há mais de duas décadas, as redes começaram a surgir com maior acentuação nos últimos 10 anos. Em alguns casos, certas redes surgiram com a genuína intenção de coordenar acções para estabelecer um diálogo colectivo e estruturado com o Governo, mas em muitos casos elas surgiram como resposta a nova abordagem de financiamento dos doadores que consiste no apoio à projectos de advocacia através de acções coordenadas com as redes.
Na verdade, actualmente a maioria das redes das organizações da sociedade civil existentes em Moçambique resultam da mudança de abordagem dos doadores e não genuinamente por iniciativa das organizações da sociedade civil de se juntarem por uma causa comum. Como consequência disso, o engajamento dos membros dessas redes é meramente simbólico, para transmitirem a ideia de que fazem parte de uma rede e, por conseguinte, são elegíveis à fundos dos doadores.
Ao nível nacional existe uma diversidade de redes com foco para diferentes áreas de actuação. Temos redes da sociedade civil com foco para a área da saúde, educação, protecção social, indústria extractiva, terra, agricultura, mudanças climáticas, entre outras áreas. Igualmente, ao nível das províncias também foram criadas redes que normalmente são denominados fóruns provinciais da sociedade civil.
Todo esse conjunto de redes, na prática, enferma dos mesmos problemas. Elas pouco coordenam, não reúnem regularmente, quando reúnem poucos membros participam, as agendas surgem em função das circunstâncias e muitas vezes são agendas emanadas de um ou dois membros e não do conjunto como um todo, o que propicia fraco envolvimento dos outros membros.
Para além desses problemas, há nas redes uma tendência frequente de praticar o protagonismo, desvirtuando deste modo o sentido de grupo. Isto ocorre, em parte, pela forma como estão estruturadas as redes. Em muitos casos, um dos membros das redes toma a responsabilidade de funcionar como o secretariado da rede, no sentido de permitir que haja um ponto de interacção entre a rede e os outros actores externos. Com isto, o secretariado da rede torna-se o principal protagonista do grupo, actuando em nome da rede e muitas vezes, sem o consentimento dos membros, quer na sua relação com o Governo, assim como na sua relação com os doadores.
Adicionalmente, nota-se uma inércia nos membros das redes quando se trata de executar tarefas específicas, como por exemplo a produção de documentos ou a participação em encontros em representação da rede. Dito de outra forma, os membros das redes apenas se engajam activamente quando percebem vantagens imediatas, neste caso quando são acções que envolvem viagens ou possibilidade de financiamento alargado aos membros.
Um outro aspecto que tem caracterizado as redes é o fraco uso das tecnologias de informação e comunicação nas suas acções de advocacia. Isto eventualmente esteja associado a fraca literacia sobre o uso destes instrumentos, mas também ao facto de se acreditar que os mecanismos tradicionais de praticar a advocacia são os mais eficazes.
Apesar dessa crença, actualmente há também um reconhecimento de que o uso da mídia social com recurso à tecnologias de informação e comunicação constitui um mecanismo alternativo para promover campanhas de advocacia. Através destas ferramentas é possível registar e produzir evidências para alimentar os processos de influência de políticas e práticas da administração pública. Igualmente, a ferramenta tem utilidade para a disseminação de informações e mensagens-chave para um público mais alargado, o que não seria possível sem o uso da mesma. Mesmo assim, novamente, há poucas evidências do uso dessa ferramenta por parte das redes das organizações da sociedade civil para as suas acções de advocacia.
Esse conjunto de problemas, portanto, condiciona a actuação efectiva das redes, tornando-as inoperantes e com fraca capacidade de exercer influência sobre políticas públicas. Face a este cenário, interessa identificar os factores que interferem para o pleno funcionamento das redes da sociedade civil, no sentido de conceber abordagens inovadoras para inverter este cenário.
Para este propósito, a Aliança da Sociedade Civil contra a Usurpação da Terra em Moçambique (ASCUT) pretende contratar serviços de consultoria para gerar informação sistematizada que será útil para a concepção de um modelo ideal para o funcionamento das redes das organizações da sociedade civil em Moçambique.
Objectivo Geral
Objectivos Específicos
Para a condução do estudo, espera-se a adopção de uma metodologia participativa que privilegie o método qualitativo e quantitativo (se necessário). Para além da revisão documental, o processo deve incluir a realização de entrevistas exploratórias e semi-estruturadas com diferentes actores chave, envolvidos na actuação das plataformas das organizações da sociedade civil. Portanto, os membros das plataformas, as ONGs internacionais e doadores são actores indispensáveis para o processo de entrevistas.
O consultor tem a liberdade de propor a metodologia que julgar adequada para assegurar que o estudo tenha a qualidade desejada.
As premissas básicas de comportamento ético e profissional por parte da equipa consultora devem incluir:
O critério de selecção a ser optado será um critério conjugado e de acordo com as normas e procedimentos do procurement da ASCUT-Justa Paz.
A comissão de avaliação terá em consideração os seguintes critérios: (a) a pertinência e a satisfação da ASCUT-CARE/Comité de Pesquisa do projecto em relação à proposta de orçamento; (b) qualificações técnicas e a experiência relevante do consultor na área em questão.
Cada critério será avaliado numa escala de 1 a 100%, sendo que a proposta financeira pesará 60% e as qualificações técnicas pesarão 40%. As avaliações serão depois ponderadas para chegar a uma classificação final. Somente os consultores pré-selecionados serão contactados.